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sábado, 1 de setembro de 2012

EPÍLOGO




Você não sabe, não é?
Não sabe o que é uma noite habitada por terrores;
Não conhece os sonhos que eu vendi;
As esperanças que vi definhar;
Não sabe o que é alçar voo em direção ao chão.
Você não entende os calafrios que já senti,
Nem porque a madrugada me obriga a chorar;
Me obriga a farejar os cadáveres como um cão.

Cada luta vencida;
Cada gota do meu sangue derramada
não serviu de nada.
Sou obrigado a ajoelhar-me diante de um rei
que eu não vi ser coroado,
Mas que aponta seu cetro para mim e
me chama de “bastardo”.

Você não sabe, não é?
Não sabe o que é olhar as estrelas
enquanto despenca num abismo.
Você não sente o peso das correntes que carrego;
Cada elo me unindo a uma desgraça que eu não vivi.
Você desconhece os monstros que eu tive que matar,
e ainda assim ver a Medusa me petrificar.

Agora todos os miseráveis chamam meu nome em uníssono;
Clamam para que eu volte para casa e saia da presença do rei.
Ainda sinto a pressão da venda sobre os meus olhos;
Mas a verdade se enrosca em símbolos diante de mim.
Às minhas costas, os demônios;
Exigindo o pedaço de mim que lhes é de direito;
À minha frente, o imperador;
Pedindo em ouro o que não posso pagar com vida;
E em minhas mãos, o feto ensanguentado
Do que já sonhei viver;
Do futuro que vi morrer;
Da escuridão que vi crescer.

2 comentários:

Jefferson Reis disse...

Já escrevi poesias assim e algumas pessoas sentiam medo de mim. Mas é tão belo.

Pedro Lourenço disse...

É preciso colocar certos pensamentos para fora, e ver certas pessoas achando que somos loucos é bem engraçado'