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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O MENINO QUE NÃO SABIA CHORAR




                    Anônimo nasceu numa tarde nublada de Junho. Depois de muitas horas de trabalho de parto, Anônimo veio ao mundo, mas, ao contrário dos bebês normais, ele não chorou. Hoje se sabe que Anônimo não era um bebê normal. Nunca foi. Não importava se era dia ou noite, se estava quente ou frio, se tinha fome ou outras dessas coisas de bebês, ele nunca chorava. A mãe dele, Sra. Alguém, as vezes ia ao seu quarto de madrugada, e encontrava-o acordado, olhando fixo para o teto, como se estivesse dormindo de olhos abertos.
                    Ele também demorou mais para aprender a falar do que as outras crianças. Sua primeira palavra foi “não”. Mesmo depois de começar a falar, ele não se comunicava muito. Não falava nada além do necessário. Anônimo cresceu solitário, sem amigos. Ele simplesmente não entendia as outras crianças. Por que elas corriam e gritavam tanto? Por que arreganhavam a boca e mostravam os dentes para mostrar que estavam felizes? Nada fazia sentido para Anônimo.
                    Ele, quando pequeno, gostava de desenhar árvores e relógios. Cresceu, e trocou os lápis de cor por bonecos dos Power Rangers. Com o tempo, também abandonou os brinquedos, substituindo-os por livros. Anônimo gostava de ler. Ele sentia como se estivesse vivendo uma vida que não era a sua. Uma vida de pessoas que sentem e choram. Mas ele não gostava dos finais dos livros, pois as vidas que ele vivia deixavam de existir, obrigando-o a voltar para a realidade, onde ele nada sentia. Anônimo achava que a morte devia ser parecida com o final de um livro.
                    Anônimo sabia que não era normal, e seus pais também. Mandaram-no para diversos psicólogos e psiquiatras, mas nada mudou. Terapias, hipnose, medicamentos; nada fazia efeito. Ele não sentia absolutamente nada, como se fosse um objeto inanimado, como se não existisse. Nem os gritos que a mãe dava quando apanhava do Sr. Alguém o emocionavam. Ele trancava-se no quarto e tentava chorar, ficar triste, qualquer coisa, mas não conseguia. Uma vez ou outra ele sentia que era uma pessoa ruim por não se importar com os outros. Não era culpa; estava mais para uma nota de rodapé sobre sua própria vida. Assim que os gritos acabavam, esses pensamentos iam embora, e ele voltava para os livros.
                    Um dia Anônimo encontrou um cachorro morto na rua. Ele observou-o rapidamente, reparando nas marcas de pneu no corpo do animal, depois virou as costas e foi para casa. Não foi muito diferente quando ele recebeu a notícia da morte do pai. Observou-o rapidamente estirado no caixão, com os algodões enfiados no nariz, depois virou as costas e foi para casa. Não é preciso dizer que ele não derramou uma lágrima, não é? A Sra. Alguém tentou se matar, tomando todos os remédios que encontrou pela casa. Não conseguiu. Uma vizinha encontrou-a desmaiada e socorreu-a. Anônimo visitou a mãe algumas vezes no hospital, mas não prestou atenção nas palavras dela. Tudo o que ele queria era sair daquele lugar e trancar-se em seu quarto.
                    Um dia, já de madrugada, ele terminou de ler mais um de seus livros. As Aventuras de Pinóquio. Ao contrário das outras vezes, não foi tomado pela sensação de vazio que sucedia os finais dos livros. Alguma coisa naquela história havia despertado algo novo dentro dele. Algo humano. Naquela noite, ele sonhou com a fada azul, e chorou enquanto dormia. No outro dia, ele não se lembrava mais do sonho, e as lágrimas em seu rosto já haviam secado. Anônimo se lembrou do cachorro atropelado que encontrou outro dia, e sentiu-se triste. Ele sentiu algo pela primeira vez na vida, como um menino de verdade.

domingo, 25 de novembro de 2012

DOCE ESCURIDÃO - parte 5


SOB O CAPUZ

Chão úmido. Cheiro de urina. Escuridão. Kevin tentava se acomodar da melhor maneira possível encostado à parede da masmorra. O silêncio seria absoluto, não fosse pelo som de sua respiração e um zunido incessante em seus ouvidos. Ele ainda estava confuso, mas já conseguia por os pensamentos em ordem. Tudo foi rápido demais, estranho demais.
Num momento eles caminhavam furtivamente pelo castelo, no outro eram mandados para as masmorras pela mulher que achavam ser mãe deles. Ela não titubeou, não demonstrou o menor sinal de ressentimento, apenas disse: “Joguem eles nas masmorras. O rei irá querer interroga-los quando voltar.”
Será que eu me enganei? Pensou Kevin, pela centésima vez. Não, não posso ter me enganado. Sophie também achou o mesmo que eu. Eu vi nos olhos dela... ou será que eu imaginei isso? Mas, se eu não estiver enganado, se a rainha for mesmo a minha mãe, por que ela jogaria os próprios filhos na masmorra? Rainha? Como assim “rainha”? Como isso aconteceu? Será que ela é a esposa do rei? Claro que ela é a esposa do rei, seu imbecil! Mas... o que aquele monstro fez...
Um som distante interrompeu os questionamentos de Kevin. Um som metálico, uma tranca talvez... e chaves. Agora se ouviam passos, e de mais de uma pessoa, ao que parecia. Eles ficavam cada vez mais próximos. Outra tranca. O ranger de uma porta. Os passos já estavam quase na porta da cela de Kevin. Eles vieram me interrogar. Acabaram de torturar minha irmã, e agora vão me torturar. Ele teve vontade de chorar, de gritar. Gritar pelo nome da irmã, como fez no palácio da bruxa, mas, como da outra vez, não obteria resposta.
Os passos pararam. O barulho de chaves foi seguido pelo da tranca. A porta da cela se abriu com um rangido alto. Uma sombra encapuzada estava parada do outro lado do portal, observando-o. Mesmo tentando, Kevin não conseguiu se levantar, pois seus músculos estavam tensos e doloridos. A sombra caminhou até ele vagarosamente, e parou.
— Kevin, sou eu — disse Sophie, baixando o capuz.
Ele deu um salto, ignorando toda a dor que aquilo lhe causou. Correu até a irmã, e segurou o rosto dela entre suas mãos trêmulas, como que para ter certeza de que não era um sonho — ou um pesadelo. Kevin ria e chorava ao mesmo tempo. Ele nunca havia ficado tão feliz de ver Sophie.
— Como você conseguiu fugir? Você... Você está bem? — Kevin perguntou com a voz embargada.
— Está tudo bem. Ela me ajudou.
Foi só aí que Kevin reparou em outra pessoa encapuzada, que aguardava silenciosa na entrada da cela. Ele sentiu seu coração queimar e se expandir. Mesmo sem poder ver o rosto de sua misteriosa salvadora, sorriu... sorriu como não sorria a cinco anos. Existia vida no mundo outra vez. Eu estava certo.
A mulher misteriosa jogou o capuz para trás e ficou olhando-o, admirando-o. Ela lhe abriu os braços, e Kevin jogou-se entre eles.
— Filho.
— Mãe.
Kevin sentia-se mais leve, quase a ponto de erguer-se do chão e voar até o céu. Toda a dor e incerteza que ele carregara nos últimos anos pereceram evaporar, e delas não restara nada além de lembranças distantes, como a sombra de sua história. Ele não queria se soltar daquele abraço; não queria descer dos céus. Nada mais importava, pois a vida voltou a ser bela.
— Eu tive medo... tive medo de não te ver mais... medo de que você estivesse... — Kevin não sabia mais como pronunciar aquela palavra.
— Está tudo bem agora. Eu estou aqui. Estamos juntos novamente.
Kevin soltou-a e olhou em seus olhos. Eram os mesmos olhos verdes dos quais ele se lembrava, mas o resto estava diferente. Ela estava mais “exuberante”. Os questionamentos assaltaram Kevin todos de uma vez. Um mar de dúvidas.
— O que aconteceu com você? Por que... você virou rainha?
A felicidade deu lugar ao pesar na face de Anne — este era o nome verdadeiro dela. Ela olhou para o chão, e, só depois de muito tempo, falou:
— É uma longa história. Não temos todo esse tempo. O que você precisa saber é que não tive escolha. O rei se apaixonou por mim e me forçou a se casar com ele. Tive que abandonar minha história e esquecer quem eu era. Fui obrigada a ver e fazer coisas horríveis, mas, mesmo assim, nunca deixei de pensar em vocês, nem um dia sequer. A esperança de reencontra-los um dia foi a única coisa que me impediu de fazer uma loucura — ela falou isso com uma frieza impressionante. Os anos que ela havia passado naquele castelo haviam-na transformado numa mulher forte. — Não pude fazer nada quando vocês entraram na sala do trono. Se eu tivesse tentado algo, os soldados nos matariam. Agora vamos sair daqui antes que alguém perceba que eu não estou no meu quarto, e que a cela da sua irmã está vazia. Tome, isto é seu — ela entregou a Kevin a espada e o punhal dele. — Consegui pegar antes de fugir.
Anne caminhou com passadas largas para a porta, mas antes de poder se distanciar muito, Kevin falou:
— Mãe?
— Sim?
— Não vou te perder de novo.
Ela parou, virou-se, e sorriu. Seus olhos encheram-se de lágrimas.
— Você é igual ao seu pai. Os dois são — ela disse, agarrando Sophie pela mão. — Vamos.
Enquanto eles corriam pelos corredores subterrâneos do castelo, Kevin perguntava-se se conseguiriam de fato fugir. Havia guardas espalhados por todos os lados, e não demoraria muito até que começassem a caça-los. Tinham que sair do castelo, cruzar a cidade e passar pelas muralhas, tudo isso antes que soasse o alarme. Parecia impossível.
— Onde está o rei? — ele perguntou.
— Garvan foi cuidar de revoltosos perto do Mar de Outono. Não deve voltar até a próxima lua cheia — respondeu Anne.
— É verdade que ele é um... monstro? — Sophie perguntou, ao mesmo tempo temerosa e encantada.
— Não que eu saiba, mas ele com certeza não é um homem comum.
Os túneis pareciam não ter fim. Cada segundo ali embaixo parecia um minuto, e cada minuto, uma eternidade. Nada dava sinal da passagem do tempo. O mundo resumia-se a escuridão e ecos. As chamas do archote que Anne carregava tremulavam, enchendo o espaço ao redor deles de sombras, companheiras observadoras e silenciosas. No fim de um corredor especialmente longo, deram de cara com uma porta de ferro. Anne pegou as chaves e destrancou-a rapidamente. O rangido que ela fez ao se abrir seria suficiente para acordar todos os mortos das redondezas. Agora Kevin tinha certeza de que seriam descobertos, e logo. Passaram por outras tantas portas, de madeira e de ferro; subiram escadas; cruzaram corredores e mais corredores, até que, por fim, entraram numa sala de pedras rústicas, com lustres velhos pendurados no teto e janelas altas guarnecidas por grades. Existia uma única mesinha na sala, colocada num dos cantos do cômodo. Havia sangue sobre e em volta do móvel, e um par de pés calçados com botas projetava-se de detrás dele. Kevin olhou para a mãe, procurando uma explicação, mas ela ignorou-o.
Saíram pela outra porta que havia na sala, e prosseguiram com sua fuga. Anne guiou-os através do castelo até uma torre na ala leste. Para evitar encontrar guardas e criados, tiveram que pegar um caminho mais longo, cruzando corredores empoeirados e quase abandonados. Subiram até o último cômodo da torre, onde não havia nenhum móvel além de um espelho trincado e manchado. Uma enorme janela em forma de arco abria-se para o mundo exterior. Ela estendia-se do chão ao teto, como uma porta abrindo-se para o céu. Uma porta, não uma janela. Kevin não conseguia entender porque sua mãe havia os levado até aquele lugar. Por mais que perguntasse o motivo daquilo, ela se negava a responder.
— O que estamos fazendo aqui? — ele perguntou novamente, depois da mãe trancar a porta atrás deles.
— Esta torre é chamada de Torre de Eva. Dizem que aqui existe uma passagem secreta que leva para fora do castelo. Procurem pelas paredes, eu vou...
— Como assim dizem? A senhora não tem certeza? — perguntou Sophie, aturdida.
— Essa é nossa única chance. Colocaram mais guardas na muralha depois do que vocês fizeram, e se tentássemos fugir pelos esgotos, talvez nunca mais conseguíssemos sair de lá. Não temos escolha.
Sophie e Kevin ficaram tateando as paredes, empurrando cada pedra que alcançavam, enquanto Anne movia com dificuldade o pesado espelho. Não havia nada atrás dele. Ela juntou-se aos filhos no enxame às pedras, mas, mesmo assim, não obtiveram nenhum resultado. Eles já haviam desistido das paredes, e começavam a tatear o chão, quando um ruído indistinto chamou-lhes a atenção. Os três ergueram a cabeça e apuraram os ouvidos, e só depois de algum tempo reconheceram ser um assovio.
— Deve ser só um pássaro lá fora — Kevin deu de ombros.
O som não cessou, e ficou cada vez mais próximo.
— Não, não é um pássaro — disse Anne, levantando-se rapidamente. — Esse som vem daqui de dentro da torre.
Kevin e Sophie mal tiveram tempo de se levantar e pegar suas armas, pois a porta espatifou-se por inteira, sem o menor aviso prévio. Lascas de madeira voaram em todas as direções, como um enxame de abelhas, obrigando-os a proteger os olhos. Quando voltaram a olhar para a entrada do cômodo, encontraram um homem parado onde antes ficava a porta, observando-os e assoviando.
— Encontrei vocês — o homem disse, com uma voz ao mesmo tempo dura e comedida.
Ele tinha pelo menos uns dois metros de altura, e um corpo muito musculoso. Volumosos cabelos negros emolduravam um rosto anguloso, de onde dois grandes olhos cor de mel examinavam os presentes. Ele parecia estar achando graça em tudo aquilo, pois um tímido sorriso estampava-se eu seu rosto.
— Garvan, o que você está fazendo aqui? — Anne soou impressionantemente decidida ao dizer essas palavras.
Você? Onde está o “Vossa Majestade”?
— Dane-se a majestade.
— Oh! Parece que alguém aqui se esqueceu dos modos, e também se esqueceu de me apresentar nossos convidados — disse Garvan, olhando para Sophie e o irmão.
Anne ficou calada, encarando o rei. Kevin estava impressionado com a força e a coragem da mãe. Ela, assim como os filhos, havia mudado muito nos últimos anos.
— É um grande prazer conhecer os filhos de minha esposa, e...
— Deixe-os ir. Fique comigo. Eles não têm nenhuma serventia para você. Deixe-os ir — Anne suplicou; sua voz já não soava tão dura assim.
— Nenhum de vocês sairá daqui... vivo.
Garvan saltou para frente, indo na direção de Anne. Sophie tentou atingi-lo com seu punhal, mas ele foi mais rápido e deu um soco nela, jogando-a contra a parede. Isso aconteceu numa fração de segundo, e antes que Anne pudesse reagir, Garvan já apertava sua garganta e erguia-a do chão. Ela lutava inutilmente contra a descomunal mão que envolvia seu pescoço.
— SOLTA A MINHA MÃE! — Kevin partiu para cima dele empunhando a espada com as duas mãos, e conseguiu abrir um corte profundo no braço com o qual Garvan segurava Anne. Ele largou-a imediatamente.
O rei olhou indiferente para o corte no braço, do qual não parava de jorrar sangue. Contemplou-o durante um tempo, e depois, com a mesma frieza, virou-se para Kevin e disse:
— Você ainda não entendeu que vai morrer, não é?
Um súbito tremor atacou o corpo de Garvan, mas ele sorria. Um sorriso sádico e cruel, e feroz, e mortal. Suas pernas curvaram-se num ângulo estranho, e seus pés transformaram-se em patas. De suas mãos brotaram garras, e pelos negros começaram a cobrir todo o seu corpo, corpo esse que ficou ainda mais musculoso. Seu rosto esticou e afinou-se, dando lugar a um focinho. Suas orelhas cresceram, junto com os dentes, mas os olhos continuaram os mesmos. A besta ficou parada, arfando, olhando para tudo e nada ao mesmo tempo, até que direcionou sua atenção para Kevin.
— Onde nós paramos? — sua voz era rouca e cheia de ecos. — Ah sim! Na parte em que eu te explico que você vai morrer.
O lobisomem — ou o que quer que ele fosse — atirou-se sobre Kevin com a boca arreganhada e os dentes a mostra. Kevin girou a espada no ar, mas não conseguiu atingir a fera, só retarda-la. Furioso, Garvan investiu novamente, agarrando a frente das vestes de Kevin e jogando-o contra a parede. Ele tentou fugir rastejando, mas foi lento demais; a besta segurou uma de suas pernas e atirou-o do outro lado do cômodo. Kevin chocou-se contra o espelho, fazendo uma chuva de cacos de vidro cair sobre si. Seu corpo estava muito ferido, mas ele não sentia dor, apenas um desejo irracional de salvar a si e a família. Ele tateou em volta, mas não encontrou a espada, e o punhal também havia sumido. Tudo o que achou foi uma infinidade de cacos de vidro. A lembrança da bruxa veio e foi embora num lampejo, mas foi o suficiente para deixa-lo sem ar nos pulmões. As vidas da mãe e da irmã dependiam dele, mas não havia nada que pudesse fazer para salvá-las. Por um momento, desejou ter sido queimado junto com o pai na aldeia, cinco anos atrás.
Ele arrastou-se debilmente sobre o vidro espatifado, procurando pela espada. O chão vibrava com os passos de Garvan. Kevin podia sentir a fera se aproximando; os olhos postos nele, prestes a atacar. Ele enxergou a arma, mas ela estava muito distante; antes que conseguisse alcançar, seu corpo já repousaria destroçado sobre o chão de pedra fria. Um incrível sentimento de aceitação assaltou-o, e ele reconheceu que aquilo era o fim. Mãe. Sophie. Seu coração doía por saber que elas não teriam um destino diferente do seu, mas pelo menos estavam todos juntos novamente. E pela última vez. Acabou, ele pensou.
Um grito — um urro — de gelar a espinha ecoou pelo cômodo. Aquilo, definitivamente, não era humano. Foi o som mais próximo de um trovão que Kevin já havia escutado. Ele rolou para cima e deparou-se com Garvan em pé, sobre ele. Seu corpo estava arqueado e ele respirava pesadamente. Suas mãos tremiam descontroladas, e uma flecha estava cravada no seu ombro direito. Antes que a fera se recuperasse do ataque, outra flecha atingiu-o, enterrando-se no seu abdômen, forçando-o a dar alguns passos para trás. Kevin levantou-se com dificuldade e olhou em volta. Sua irmã estava em pé próxima à porta, terminando de enfiar uma flecha em seu arco e apontando para Garvan. Sangue saia de um corte em sua testa, manchando metade do seu rosto, mas ela estava concentrada, com o olhar focado no lobisomem.
— Saia daí! — gritou ela para Kevin.
Ele obedeceu e saiu do caminho. Uma flecha cravou-se no peito direito da fera, que recuou ainda mais. Aquilo não fazia sentido, Kevin pensou. Como simples flechas podem fazer tanto mal a ele? Sophie leu o assombro no rosto do irmão, e falou:
— As pontas são de ametista. Uma velha me vendeu dizendo que poderiam ser úteis se eu quisesse matar um monstro. Parece que ela não estava mentindo. Agora pegue a sua espada!
Assim que ela terminou de falar, lançou mais uma flecha contra Garvan. A seta acertou em seu ombro esquerdo. Kevin caminhou cambaleando até a espada e empunhou-a. Encontrou sua mãe encostada na parede, observando a cena com os olhos arregalados. Ela não aparentava estar ferida, para alívio de Kevin.
Ele postou-se ao lado de Sophie, que já tinha outra flecha preparada e apontada. Garvan os olhava furioso do outro lado da sala. Seu rosto estava desfigurado numa careta de dor e ódio, e espuma saia de sua boca. A janela abria-se atrás dele, emoldurando-o. Uma silhueta negra em contraste com o céu nublado.
— Vocês acham mesmo que vão conseguir me matar com essas flechas? — sua voz soava como um rosnado.
— Sim — respondeu Sophie, cínica.
Seus dedos soltaram a corda do arco. A flecha cortou o ar e penetrou o peito de Garvan. Ela transpassou pele e músculo, até atingir o coração. A besta urrou de dor e cambaleou para trás, em direção à janela. A menos de um metro da queda mortal, Garvan parou e caiu de joelhos. As mãos agarrando a flecha que estava cravada em seu coração. Apesar de todo o esforço que fez para arranca-la, ela não se moveu. Kevin caminhou até ele; a espada arrastando no chão. Um som estridente de metal sobre pedra ecoando nas paredes. O lobisomem ergueu os olhos e ficou observando Kevin para ali, na sua frente.
— Não me mate, eu suplico. Eu...
— Você fala demais.
Kevin ergueu a espada com as duas mãos e enfiou-a com toda a força na testa de Garvan. A ponta da arma brotou na nuca do monstro, ensanguentada. Kevin puxou a lâmina de volta e chutou o peito da fera, que tombou para trás e caiu da janela, mergulhando em direção ao chão. Mergulhando em seu próprio abismo. Não havia nenhum lugar onde Kevin pudesse limpar sua espada, então ele enfiou-a na bainha ainda ensanguentada, e deu as costas para a janela.
As histórias diferem sobre o que aconteceu depois disso. Algumas dizem que os três acharam um portal mágico na moldura do espelho quebrado, e por lá fugiram, outras que eles tentaram escapar pelos esgotos e passaram sete anos perdidos dentro deles. Existem até aquelas que afirmam que Kevin tornou-se rei no lugar de Garvan, dando origem a uma linhagem de monarcas justos e corajosos. Bem, deixemos todas as suposições e teorias de lado, pois a única coisa que precisamos saber é que eles viveram, e que foram felizes sempre que possível.



FIM


terça-feira, 20 de novembro de 2012

DOCE ESCURIDÃO - parte 4

Atendendo a pedidos, aqui está a continuação de Doce escuridão.
                Peço desculpas por demorar tanto para postá-la, mas uma mistura de garganta inflamada e bloqueio criativo me impossibilitaram de escrever. Mas o que importa é que acabei, e aqui está o fim... na verdade não é exatamente o fim, pois terei que dividir a continuação em duas partes.                Sem mais rodeios, aqui prossegue a história de Kevin e Sophie, mas serão eles os mesmos que conhecemos?                
Boa leitura.


 LONGE, MUITO LONGE

Era uma vez, numa aldeia esquecida pelo resto do mundo, um casal de irmãos. Seus nomes eram Kevin e Sophie. Eles viviam felizes com seus pais e com toda a gente daquele lugar, até que, certo dia, uma desgraça se abateu sabre eles.
Uma horda de bárbaros invadiu o povoado na calada da noite. Saquearam e queimaram as casas, estupraram as mulheres e mataram todos aqueles que se atreveram a lutar, inclusive o pai de Kevin e Sophie. Da mãe deles não se sabia o paradeiro. Ela havia sido arrastada pelos invasores para fora de casa, aos gritos. Os irmãos conseguiram fugir esgueirando-se pelos fundos da casa e correndo pela estrada, encobertos pelo manto de escuridão de uma noite sem luar. Caminharam durante dias e mais dias, e, numa noite, quando haviam se convencido que já estevam relativamente seguros, depararam-se com o acampamento dos saqueadores montado na floresta. Eles fugiram desembestados, como se a própria morte estivesse caçando-os, esticando suas frias mãos para arrasta-los para o vazio. Nesta desesperada fuga, foram parar numa floresta assombrada, onde as árvores tinham vida e fome. Mesmo lutando com todas as suas forças contra os galhos e raízes, eles acabaram sendo subjugados. Quando tudo parecia estar perdido, uma mulher misteriosa apareceu e livrou-os do abraço da morte, mas não por muito tempo. A estranha que os salvou na verdade era uma bruxa com sede de sangue. Ela sequestrou Sophie e tentou sugar a vida da pobre garota, mas Kevin chegou a tempo de impedir os planos da bruxa de se concretizarem. Ele arrancou a cabeça dela com um machado, e conseguiu salvar a irmã, mas a jornada deles não acabava aí... Eles deviam encontrar sua mãe, e, caso ela ainda estivesse viva, libertá-la de seu cativeiro, não importa o quão difícil isso fosse.
A estrada era sombria, e por mais terríveis que fossem os demônios que eles encontrariam no caminho, o pior ainda estava por vir.

●●●

— Chegou a hora — disse Kevin, deitado de bruços na terra e olhando para o horizonte.
Sophie levantou-se e foi para junto do irmão, acompanhando-o em sua vigia. O dia estava nublado, e tudo parecia estar coberto por uma fina película de cinzas. Kevin não deu atenção para a irmã quando ela sentou-se do seu lado. Seus olhos continuaram voltados para longe, muito longe...
— Você tem certeza? Não podemos esperar mais um pouco? Quem sabe...
— Não, não podemos mais esperar — cortou o irmão. — Há cinco anos nós procuramos por ela, e agora que finalmente temos alguma chance de encontra-la, você quer “esperar mais um pouco”?
— Eu não... não foi isso... Me desculpe. Você está certo. Quando iremos então? Vamos esperar anoitecer, ou...
— Agora.
Sophie não falou mais nada, apenas lançou um último olhar para o castelo que estavam espionando. Uma ilha negra num mar sem vida. Aquelas altas torres pareciam mãos com garras afiadas, tentando arrancar os próprios deuses do céu e joga-los na terra. Há cinco anos eles procuravam a mãe. Andaram por terras estranhas e sombrias; depararam-se mais de uma vez com a crueldade dos bárbaros, e seguiram seu rastro de destruição, mas nunca haviam conseguido nenhuma pista do paradeiro da mãe... até agora.  Ao que parecia, todos os prisioneiros eram levados para aquele castelo, depois se decidia o que seria feito deles. Com certeza haveria alguma pista, alguma resposta, entre aquelas paredes, e eles precisavam entrar lá. Era muito arriscado, eles sabiam; mas agora que haviam chegado tão longe, não podiam desistir.
O tempo transformou-os. Os desafios e perigos que encontraram no caminho os obrigaram a crescer mais rápido que os demais, e a trilharem sozinhos seus próprios caminhos. As mãos de ambos já estavam sujas de sangue. Não havia mais inocência neles, apenas uma alma cavernosa e cheia de ecos.
Desceram juntos do morro de onde estavam espionando, e caminharam em direção aos portões da muralha. No meio do caminho Sophie pegou um pouco de lama e espalhou pelo corpo, e Kevin amarrou as mãos dela e arrastou-a assim pelo resto do trajeto. Chegando perto do castelo, ele levantou o capuz e baixou a cabeça, mascarando-se com sombras. Dois vigias guardavam um portão secundário, para o qual eles se dirigiram. Quando Kevin se aproximou, os guardas cruzaram suas lanças, impedindo que os irmãos passassem. O da direita perguntou:
— O que vocês querem aqui?
— Encontrei essa vadia escondendo-se na floresta perto de Caimar, e vou vendê-la como escrava — respondeu Kevin, sem levantar o rosto. Ele e a irmã já haviam causado problemas suficientes para os bárbaros, e se fossem reconhecidos, tudo estaria perdido.
O guarda da esquerda aproximou-se de Sophie. Ele era mais alto que seu companheiro, e seus braços eram tão grossos quanto troncos. Sua espada balançando pesadamente, presa em seu cinto. Ele parou na frente de Sophie, agarrou a bunda dela com sua grande mão e puxou-a para si. Ela não tentou resistir.
— Há muito tempo não como uma boa puta. O que você acha se ficarmos com ela, Isy? — gritou ele para o outro guarda.
— Ela é minha prisioneira — disse Kevin, calmamente.
O vigia que estava junto dele ficou encarando-o, ou encarando o capuz, pelo menos. A cada segundo que passava, Kevin ficava mais apreensivo, mas procurou esconder isso. Por fim, o guarda falou:
— Podem passar.
Sophie e o irmão relaxaram neste momento, e passaram pela muralha, mas, depois de terem dado alguns poucos passos, uma voz chegou até seus ouvidos:
— Esperem.
Os dois pararam no mesmo momento. Ouviram passos aproximando-se deles.
— Abaixe o capuz — disse um dos guardas para Kevin.
Ele virou-se para o homem, mas não o obedeceu.
— Abaixe o capuz agora.
A esta altura o segundo guarda já se juntava ao seu colega, mas Kevin não obedeceu. Foi só quando os dois guardas já estavam próximos dele, e pareciam estar a ponto de arrancar-lhe o capuz a força, que ele o abaixou, e encarou-os. Os vigias olharam-no sem grande interesse, até que aquele chamado Isy franziu o cenho, apertou os olhos, e disse:
— Eu conheço você.
— Não, não conhece — disse Kevin com toda a calma do mundo. Antes que o homem pudesse dar mais uma palavra, Kevin puxou o punhal da cintura e cortou a garganta dele, fazendo jorrar uma cascata de sangue pelo pescoço e peito do vigia. O segundo guarda nem teve tempo de reagir, pois Sophie já havia se soltado das cordas e caído sobre ele. Agora ambos estavam jogados, com as gargantas cortadas, numa poça de sangue que crescia cada vez mais. Suas espadas permaneciam nas bainhas.
— Vamos nos livrar dos corpos e sair daqui antes que alguém dê o alarme de invasores — disse Kevin à irmã, limpando o punhal no manto do guarda mais alto. Eles esconderam os cadáveres dentro de uma carroça que estava próxima ao portão, e foram em direção ao castelo.
As ruas estavam desertas, pois ainda era muito cedo e o sol mal havia acabado de nascer. As janelas das casas ainda estavam fechadas, mas já era possível ouvirem-se sons dentro delas. Esgueiraram-se por becos e vielas, procurando fugir dos guardas que rondavam a cidade. Quando passaram por uma fonte, Sophie limpou a lama seca que cobria seu rosto, e continuaram a andar. Encontraram algumas caixas cheias de garrafas vazias jogadas numa esquina. Cada um pegou uma. Quando eles chegaram às ruas mais amplas que rodeavam o castelo, uma corneta tocou em algum lugar distante, provavelmente nas muralhas. Não muito depois, três guardas passaram correndo por eles. Um deles parou e perguntou-os:
— Para onde estão indo?
— Estamos levando estas garrafas para a cozinha do castelo — mentiu Sophie.
O homem não se deteve mais, apenas bufou aborrecido e seguiu correndo atrás de seus companheiros. Kevin e a irmã por fim chegaram ao castelo. Entraram numa rua estreita e suja, cercada de altos muros de ambos os lados. Uma grossa porta de madeira destacava-se na parede de pedras ásperas. Não havia guardas vigiando-a. Bom. Abriram-na e entraram no que parecia ser um depósito. Linguiças e grandes pedaços de carne salgada pendiam do teto. As prateleiras estavam cheias de queijos, especiarias e potes de barro. Sacos de trigo e cevada amontoavam-se pelo chão, juntos com caixas e mais caixas de legumes. Eles não largaram as caixas com garrafas. Passaram por uma portinha e saíram numa ampla cozinha. Algumas poucas pessoas trabalhavam amassando e assando pães, ou cortando legumes. Nenhuma delas deu atenção aos intrusos. Largaram as caixas sobre uma mesa e continuaram. Da cozinha foram para um refeitório cheio de bancos e mesas compridas, depois um amplo corredor, e em seguida outra cozinha, que estava vazia. Quando entraram em um corredor de teto alto, cheio de janelas em forma de arco no topo das paredes, ouviram passos na outra extremidade dele. Eles deram meia volta, mas já era tarde demais. Seis ou sete soldados barraram a passagem por onde eles tinham entrado, com espadas e lanças em punho.
— Onde vocês pensam que vão?
Sophie e Kevin viraram-se, e deram de cara com o guarda que haviam encontrado na rua próxima ao castelo. Ele estava acompanhado de três soldados, um deles com as mãos manchadas de sangue.
— Os levem para a rainha — ordenou aos outros. — Ela saberá o que fazer com eles.
Não havia para onde fugir, e nada que pudesse ser feito. Eles haviam fracassado.

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Os guardas arrancaram todas as armas que eles traziam, e arrastaram-nos pelo castelo. A cada corredor e porta que passavam, a esperança diminuía no coração dos dois irmãos. Aquele labirinto de pedras estranhas havia os engolido, assim como engolira muitos antes deles. Fomos devorados, como nossa mãe...
Chegaram por fim a uma descomunal porta de carvalho e ferro em forma de arco. Sentinelas guardavam-na de ambos os lados, mas nem sequer lhes lançaram o mais sutil dos olhares, apenas abriram a porta. Um salão gigantesco desdobrou-se na frente deles. Incontáveis lareiras brotavam das paredes, mas nenhuma delas estava acesa. Toda a luz que iluminava o local era proveniente de altos vitrais que decoravam as paredes; fora isto, não havia mais nenhum adorno. Tudo ali era sombrio e triste, e por mais coloridos que fossem os vitrais, não eram capazes de diminuir a morbidez que brotava dos gestos e olhares dos ali presentes. Não eram muitos; nada além de um punhado de guardas, criados e gente do povo. Dois tronos rústicos estavam do outro lado do salão, vazios.
Os guardas arrastaram Kevin e Sophie para a outra extremidade do salão, para perto dos tronos. Todos os olhares estavam postos neles. As algemas que prendiam os pulsos de Kevin coçavam, mas ele tentou não demonstrar desconforto. Agora, mais do que nunca, ele não podia parecer fraco. Sua única preocupação era a irmã. Ela não era como ele. Sophie ainda preservava um pouco da sua inocência dos tempos de criança, mesmo que carregasse tantas mortes nas costas quanto ele. Para Kevin, ela não passava da sua irmãzinha, que ele precisava proteger a qualquer custo.
Uma trombeta soou solitária em algum lugar do salão, e um arauto gritou:
— Todos saúdem Sua Majestade, a Rainha Eliza, Senhora das Terras Azuis, de Tharnatia e do Mar de Outono.
Todos os presentes silenciaram seus poucos murmúrios e ajoelharam-se.  Um dos guardas que acompanhava Kevin deu-lhe uma cotovelada em suas costelas, e lhe obrigou a ajoelhar-se também. Ele conseguiu ver, pelo canto do olho, a irmã fazendo o mesmo. Passos ecoaram solitários pelo salão. Madeira sobre pedra. Vagarosos.
Toc, toc, toc...
Eles ficavam cada vez mais próximos. Os ecos que eles faziam lembraram a Kevin do palácio da bruxa, e um arrepio lhe subiu pela espinha. Uma sombra passou ao seu lado, mas ele nada enxergou além da barra de uma saia debruada de renda, e sapatos de salto alto decorados com pedrarias.
Toc, toc, toc...
O som parou.
— Levantem-se — disse a rainha.
O coração de Kevin começou a palpitar, mas ele não sabia por quê. Um guarda agarrou seu ombro e puxou-o para cima, bruscamente, então começou a falar:
— Estes aqui invadiram o castelo, Vossa Majestade. Eles assassinaram dois dos nossos guardas e...
Tudo se tornou silêncio.
No momento em que os olhares de Kevin e Sophie cruzaram-se com o da rainha, o mundo deixou de fazer sentido.
Aquele rosto... estava diferente... mas ainda era o mesmo. Sim! Ainda era o mesmo!
A palavra veio à boca de Kevin, e ali ficou, trancada. Sua garganta tornou-se um abismo, e seu coração, e sua alma...
Mãe, sussurrou uma voz do fundo abismo.
Ela está viva... ela é a rainha. Minha mãe é a rainha.
A mulher sentada no trono, mãe e rainha, encarou os dois prisioneiros com total apatia. Seu rosto era uma mascara vazia e inexpressiva. Belo penteado, joias, vestido luxuoso e postura soberana, mas faltava-lhe vida e verdade.

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(continua)


domingo, 11 de novembro de 2012

MAIS DO MESMO




Joguei fora todas as verdades que vesti
E escrevi uma nova história com hidrocor no meu caderno
Enquanto brinco que vamos juntos pro inferno
Fico com a consciência limpa
Sabendo que pra você eu não menti
Quando disse que te quero, sempre quero

Você acha graça quando falo da minha dor
E me chama de depressivo, dramático, sofredor
Mas não me importa se o teu riso
 É a corda com a qual vou me enforcar
Pois, mesmo que se abra o chão, quero é te ver gargalhar

Prometi ao meu editor que iria renovar meu estilo
Mas, das bruxas as fadas, todas se parecem contigo
E idênticas seguem as narrativas entre si
Sempre começo, meio, beijo e fim

Se essas palavras te fizerem algum sentido
Liga me avisando, ou então grita no meu ouvido
Para eu trocar “você” por “nós”
Quem sabe assim eu agrado meu editor, e até os meus avós

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

IMORTAL




Ainda ouvem-se na escuridão os cânticos de vida
E ressoa no chão os passos das estrelas
Nas florestas dançam as donzelas
E mesmo que as tranquem em celas
Ainda perpetuará a batida

Os antigos ainda brotam da terra
Venerando o sol com seus braços-raiz
E onde há gente conta-se que, mesmo na guerra,
Quem os encontra adormecerá feliz

Deita tua espada ao chão, guerreiro
Pois se abriram os portões do teu cativeiro
Limpa o sangue que te cobre
Dispa-se das mortes que te envolvem
E acolha a luz como amiga e amante
Jogando às trevas teu passado errante

Por mais que esbravejem os gigantes
E chova ferro e fogo sobre os filhos da terra
Apesar da dor e tortura da materna ferida
Ainda existirá, no coração da floresta,
Quem lembre os cânticos de vida