Páginas

terça-feira, 30 de julho de 2013

PONTEIROS GRANDES E PEQUENOS

Quando a hora chegar
Não existirão mãos para me segurar
O mundo descobrirá que esta venda não me cegou
Não me impediu de saber que o céu fica acima
E o inferno abaixo

Nem todas as bocas e vozes conseguirão
 Abafar meu rugido, quando a hora chegar
E toda a gente se calará
Suspensa no escândalo do espetáculo

Quando a hora chegar, meu canto ganhará melodia
Quebrarei esta casca dura e fria
E verei a luz do sol, e serei o sol
A verdade habita este casulo, e o sonho, o medo...
No primeiro estalo recuarão
No segundo, me virarão as costas
Não existem muralhas do lado de fora
Apenas olhos, e olhares

Quando a hora chegar, não existirá mais medo
De mim sangrará o sangue dos anjos

Pegarei para mim meu futuro
Aquele que podaram e remendaram
Darei um passo, depois outro, depois voarei
Perderei abraços e laços, e as estrelas que nomeei se apagarão
Mas ganharei a vida, e o livro no qual se escreve minha história

Quando a hora chegar, abrirei as asas.

...

domingo, 28 de julho de 2013

BARRICADA

Dia e noite tentando fugir da escuridão
As mãos cheias de calos, os olhos cegos
Eles correm de um passado que sequer viveram
Tão jovens ainda, e já condenados.

É tarde, e todo o mundo dorme
Mas das profundezas ergue-se a tempestade
Trovejando brados de liberdade
O amanhecer não tarda a chegar
E a luz banhará os homens, agora e sempre.

Eles são amantes da morte
Em seus hinos cantam batalhas que jamais lutarão
Quem chorará por eles?
Quem lhes negará o inferno do mundo?
Tão jovens ainda, e já cheios de paixão.

Abrem os braços e rogam aos céus
Seus corpos entregam-se a guerra
O canto eleva-se, as vozes unem-se
Seus sonhos enchem de vida
Esta terra de miseráveis
Tão jovens ainda, e já cheios de esperança.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

A FERA, APENAS ELA

O rapaz achava interessante a ausência de futuro em sua vida. Nada permanecia, crescia e mudava. Tudo era efêmero, passageiro, finito e quantos sinônimos mais você achar para dizer que nada perpetuava, tudo parava no meio do caminho. Sim, o rapaz sou eu, mas gosto de imagina-lo (imaginar-me) como apenas mais um dos personagens das minhas histórias, com finais irrelevantes e previsíveis. Parando pra pensar agora, percebo que a ausência de finais felizes na vida dele influenciou o tom cinza e pessimista de seus contos. Você deve conhecer os contos dele, aqueles que ele posta num blog vago e pouco visitado.
Ele nunca desejou os espinhos que carrega sobre a pele, mas eles cresceram mesmo assim, afiados e negros. Deve ser culpa da genética. Os mortais afastam-se dele, e atrevo-me a dizer que até as matérias frias e sem vida lhe tem aversão; só isso explicaria o ar que frequentemente escapa-lhe dos pulmões sem motivo aparente. É o vento correndo, atrás da árvore se escondendo. Ele é a Medusa, transformando em pedra aqueles que ousam olhar em seus olhos e encarar sua alma. Resta atrás dele um jardim de estátuas; rostos conhecidos e até queridos, que sua maldição titânica – sei que não foram os titãs – renegou à solidez do esquecimento.

Ele é a fera cuja história jamais foi contada. Sem princesas, fadas ou bruxas. Apenas a fera, vidas petrificadas e espinhos negros. O texto acaba, mas o vazio permanece. Com licença, vou ali aproveitar minha desesperança junto à minhas estátuas.