Páginas

sábado, 3 de agosto de 2013

AQUÁRIO

É conveniente fechar os olhos
Negar as verdades pichadas nas paredes
É conveniente apagar a fome, ignorar a sede
Resta assistir a novela, rezar na capela
Queimar a favela

E é peixe toda essa gente
Grandes comem os pequenos
Pequenos comem a si mesmos
E não adianta se esconder em outros mares
Destino, rede e panela
E todos estrebucham juntos
No fim das contas, são todos peixes

E festeja a nação que já nasceu arruinada
Enquanto o homem venera os cães do senado
Corre seu sangue pro chão, vermelho fica o asfalto
E dorme pra sempre o homem, e sonha que é feliz
No fim das contas, são todos peixes
No fim das contas, são todos homens
No fim das contas, no fim.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

BREVE HISTÓRIA DAS PALAVRAS PERDIDAS

Tranco no escuro o verbo viril
Rasga-se a página, escorre-me a alma
Da tinta surge a vida, da história ecoa a calma
No papel deita-se a palavra hostil
Inquieta, repousa em sono febril

No caos procura-se a relíquia
A joia rara, a lendária criatura
Acaba-se afogado num mar de loucura
Restam palavras não ditas
Impõem-se antigas torturas

Mas é menor o canto
Daquele que canta só?
Dos olhos cegos enxuga-se o pranto
 Na boca, doçura, nas asas, a cura
Cura para os dias cinzas
Para a universal amargura

Sobre a terra derrama magia
Segue os passos de anônimos heróis
De outras histórias sua história se constrói
Segue, o bardo, entoado silenciosa melodia