Eu caminhava sozinho numa estrada
empoeirada e sem vida, até que ela surgiu no topo do morro; como um sol,
derramando uma luz prateada e fria onde antes só havia o silêncio e a
escuridão. Eu gostava daquele brilho; cheirava a futuro, recomeço. Ela me abriu
os braços, e sorriu. Ela sorriu... para
mim. Cada mínima partícula de poeira ficou estática, suspensa no ar, quando
aquele sorriso nasceu em seus lábios. A Terra parou de girar; os pássaros
silenciaram seus incessantes cantos. Ela me abriu os braços, e eu lhe abri a
alma.
Ela pegou
minha mão e me levou pela estrada, que agora florescia e crescia. Falou-me
sobre os mistérios dos homens, e as certezas do paraíso. Contou tudo o que sabia sobre as flores, as
estrelas e a vida; e ora dizia que era uma princesa, ora que era fada. Por
vezes, me olhava como uma garota, outras, falava-me como uma mulher. Certo dia,
encontramos uma gigantesca e frondosa árvore.
Sua sombra era fresca; o verde de suas folhas, vívido; e grama que
crescia ao seu redor, acolhedora. Ela, de súbito, me tirou para dançar,
cantando uma melodia desconhecida. Ela acelerava e desacelerava quando bem
entendia, e eu rodopiava em seus braços, e ela nos meus. Eu sentia sua pele,
seu cheiro, e continuávamos a rodopiar perante a árvore, sem parar, cada vez
mais rápido, e mais rápido... até que tropecei, e caí. Fiquei com as mãos
enfiadas na terra úmida e viva. Ergui os olhos. Ela estava mais resplandecente
do que nunca. Uma aura dourada (não era
prateada?) emanava de sua cabeça; “um
anjo”, pensei, “uma deusa”. Eu
abri a boca para falar, mas um vento gelado invadiu-a, trancando as palavras na
minha garganta. Eu me esforçava, mas meu corpo estava, literalmente, congelado.
Minhas mãos estavam presas na terra, impossibilitando-me de levantar. O vento
ficava cada vez mais forte, e mais frio; mas ela continuava olhando-me,
sorrindo, resplandecente. O gelo subia por meus braços e pernas,
transformando-me numa estátua, até que, juntando todo o calor e vida que ainda
restava no meu amaldiçoado corpo, consegui sussurrar:
— Eu te amo — então congelei por
completo, com as mãos cravadas na terra e um eco na garganta.
Ela limitou-se a dar uma risadinha,
como tantas outras que já havia dado, mas, seus olhos... seus olhos haviam
mudado, ou quase isso. Eles antes eram brilhantes e acolhedores, curiosos e
inquietos, mas, agora, pareciam ser de vidro, frios e sem vida, e gigantescos, como os olhos de alguma
fera monstruosa e faminta, dessas que se encontram nas histórias infantis. O
gelo que me prendia trincou, nada além disso. Sua risada tornou-se uma
gargalhada, depois um rugido.
“Meu brilho não é para você” foi tudo
o que ela disse antes de irromper em chamas e desaparecer. O gelo por fim
espatifou-se, e eu caí de cara na terra, antes úmida, agora seca e morna.
Levantei-me com dificuldade e olhei em volta. Tudo estava pegando fogo; as
flores, os arbustos, a árvore. Principalmente a árvore. O céu estava vermelho,
e pássaros negros voavam... atiravam-se em todas as direções, fazendo muito
barulho. Não havia por onde sair e para onde fugir. Eu queimaria ali, e, ao que
parecia, eternamente. Rasguei versos e rimas na minha própria carne, na
esperança de que ela sentisse o cheiro de sangue e voltasse, mesmo que fosse
para acabar de uma vez comigo. Mas ela não vinha. A poesia sangrava em mim, derramando tinta
vermelha sobre as chamas. O fogo aproximava-se cada vez mais, e ela não
apareceu; nunca apareceu. No fim das contas, nós sempre estamos sozinhos.
Para o garoto que vive de sorrisos, mas que pediu-me
para escrever sobre suas lágrimas;
Anderson
9 comentários:
Simplesmente Perfeito...
Obrigado Pedro por transmitir em sua obra tudo o que eu passei e que você presenciou do meu sofrimento...
Minha capacidade de escrever coisas sem sentido tinha que servir para alguma coisa'
Pedrão: Excelente texto, mas meu recado é para outro cara;
Anderson: Foco na alegria. Poderá ainda ter muitos tombos pela frente. Mas, todos, ao te levantar, o tornarão mais forte.
www.cchamun.blogspot.com.br
Histórias, estórias e outras plêmicas
Brigadão pelo recado Claudio... Mas depois desse tombo que foi forte já faz um tempo que eu penso isso mesmo...
Concordo com o Cláudio. Ótimo texto, mas foco na alegria ;)
Dá pra começar por aqui:
http://anteontemmusical.blogspot.com.br/2012/10/paradas-de-sucessos-3-top-10-1985.html#more
;)
Obrigado pessoas'
Muito subjetivo. Isso me encanta.
Tá virando moda , isso de dedicar histórias... Muito,muito lindo. Meu amigo é "O" cara. Como ele escreve bem. Deve ter alguma magia por trás disso e ele não me conta!
Tá virando moda nada... vocês que não me deixam em paz.
E eu sou uma farsa, uso pena de repetição rápida. Tá aí o meu truque'
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