O homem freou o carro
abruptamente. Abriu a porta e desceu do veículo, molhando seu terno negro com a
chuva torrencial que caia. A estrada de terra batida tornara-se um lamaçal, e
não se podia enxergar nada além das nuvens. Nem estrelas, nem lua, nem
esperança. Ele caminhou aos tombos até o centro da encruzilhada, respirando com
dificuldade. Parou. Olhou em volta na expectativa de encontrar alguém. Não
havia ninguém. Ele estava sozinho. A chuva continuava a cair, derramando sua
frieza sobre a terra nua, lavando todo o calor que havia naquele lugar
inóspito. Lágrimas incandescentes corriam pelo rosto do homem, queimando sua
face e sua alma, caindo ao chão e somando-se ao lamaçal.
— Rachel —
sussurrou o homem. Sua garganta estava seca, sua língua áspera.
Não houve
resposta. A chuva permaneceu a cair impassível, lavando a vida daquele homem e
fazendo tremer a terra com seu coro de lágrimas.
— Rachel — repetiu.
— Rachel. Rachel!
Sem resposta.
Apenas a chuva e as sombras que habitam a noite.
— Rachel,
volta pra mim. Por que você tinha que ir embora? Por que você tinha que ir? Por
que agora? Não quero ficar sozinho!
O homem olhou em volta. Ninguém. Silêncio.
Apenas a chuva e as sombras. Levantou o olhar aos céus. A lua e as estrelas não
estavam lá. Apenas a escuridão.
— Que deus é
esse que pune os inocentes? Por que comigo? Por que você tirou a Rachel de
mim?! POR QUÊ?!
— Ninguém me
tirou de você. Eu estou aqui, meu amor.
Aquela voz. O homem virou-se. Dois
brilhantes olhos azuis espreitavam-no. A dona daqueles olhos, a mulher que ele
tanto amou, estava ali, na sua frente, novamente.
— Rachel? É
você?
— Claro que
sou eu. Você não está me vendo? — respondeu a moça com sua voz doce e
melodiosa. Seus cabelos escuros e sedosos caiam sobre seus ombros e escorriam
pelo seu vestido negro. Ela estava linda, intocada, apesar da chuva que caia
ainda mais forte.
— Você
voltou? Voltou pra ficar comigo? Rachel... — ele correu para abraça-la.
— Não posso
ficar com você aqui — respondeu ela.
— Aqui? Aqui onde? — ele parou, confuso.
— Você
precisa vir comigo.
— Ir com você? Para onde? Não estou
entendendo. Você voltou, e isso é tudo o que importa...
— Você me
ama? — perguntou ela abruptamente.
— Claro que
eu te amo!
— Você
estaria disposto a fazer qualquer coisa para ficar comigo?
— Qualquer
coisa. Onde você está querendo...
— Até morrer?
Aquela
pergunta pegou o homem de surpresa. Ele não respondeu, apenas permaneceu
olhando a mulher que estava na sua frente. Linda, radiante. A mulher que ele
tanto havia amado. A responsável pelos momentos mais felizes da sua vida. Rachel.
— Você
morreria para ficar novamente comigo?
— perguntou ela por fim, aproximando-se dele e iluminando a noite com seus
resplandecentes olhos.
— Sim.
Sim, Rachel. Qualquer coisa para ter você
novamente.
A noite ficou
silenciosa. Não havia mais chuva, lágrimas, sussurros, gritos. Não havia mais a
mulher vestida de negro, nem tristeza, ou dor, apenas um carro parado de
qualquer jeito com a porta aberta, e um homem de terno jogado na lama, com uma
arma na mão direita e um buraco de bala na cabeça. A tempestade finalmente havia
parado.
2 comentários:
Imaginei um desfecho diferente, mas gostei do final que deu para o conto.
Não sei porque mas já imaginava o fim. Vai ver já estou conhecendo um pouco teu estilo.
Mais uma vez brilhante. Triste, mas brilhante.
http://cchamun.blogspot.com.br/
Histórias, estórias e outras polêmicas
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