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sábado, 18 de agosto de 2012

A TEMPESTADE




O homem freou o carro abruptamente. Abriu a porta e desceu do veículo, molhando seu terno negro com a chuva torrencial que caia. A estrada de terra batida tornara-se um lamaçal, e não se podia enxergar nada além das nuvens. Nem estrelas, nem lua, nem esperança. Ele caminhou aos tombos até o centro da encruzilhada, respirando com dificuldade. Parou. Olhou em volta na expectativa de encontrar alguém. Não havia ninguém. Ele estava sozinho. A chuva continuava a cair, derramando sua frieza sobre a terra nua, lavando todo o calor que havia naquele lugar inóspito. Lágrimas incandescentes corriam pelo rosto do homem, queimando sua face e sua alma, caindo ao chão e somando-se ao lamaçal.
                — Rachel — sussurrou o homem. Sua garganta estava seca, sua língua áspera.
                Não houve resposta. A chuva permaneceu a cair impassível, lavando a vida daquele homem e fazendo tremer a terra com seu coro de lágrimas.
                — Rachel — repetiu. — Rachel. Rachel!
                Sem resposta. Apenas a chuva e as sombras que habitam a noite.
                — Rachel, volta pra mim. Por que você tinha que ir embora? Por que você tinha que ir? Por que agora? Não quero ficar sozinho!
                 O homem olhou em volta. Ninguém. Silêncio. Apenas a chuva e as sombras. Levantou o olhar aos céus. A lua e as estrelas não estavam lá. Apenas a escuridão.
                — Que deus é esse que pune os inocentes? Por que comigo? Por que você tirou a Rachel de mim?! POR QUÊ?!
                — Ninguém me tirou de você. Eu estou aqui, meu amor.
                Aquela voz. O homem virou-se. Dois brilhantes olhos azuis espreitavam-no. A dona daqueles olhos, a mulher que ele tanto amou, estava ali, na sua frente, novamente.
                — Rachel? É você?
                — Claro que sou eu. Você não está me vendo? — respondeu a moça com sua voz doce e melodiosa. Seus cabelos escuros e sedosos caiam sobre seus ombros e escorriam pelo seu vestido negro. Ela estava linda, intocada, apesar da chuva que caia ainda mais forte.
                — Você voltou? Voltou pra ficar comigo? Rachel... — ele correu para abraça-la.
                — Não posso ficar com você aqui — respondeu ela.
                — Aqui? Aqui onde? — ele parou, confuso.
                — Você precisa vir comigo.
                — Ir com você? Para onde? Não estou entendendo. Você voltou, e isso é tudo o que importa...
                — Você me ama? — perguntou ela abruptamente.
                — Claro que eu te amo!
                — Você estaria disposto a fazer qualquer coisa para ficar comigo?
                — Qualquer coisa. Onde você está querendo...
                — Até morrer?
                Aquela pergunta pegou o homem de surpresa. Ele não respondeu, apenas permaneceu olhando a mulher que estava na sua frente. Linda, radiante. A mulher que ele tanto havia amado. A responsável pelos momentos mais felizes da sua vida. Rachel.
                — Você morreria para ficar novamente comigo? — perguntou ela por fim, aproximando-se dele e iluminando a noite com seus resplandecentes olhos.
                — Sim.
                Sim, Rachel. Qualquer coisa para ter você novamente.
                A noite ficou silenciosa. Não havia mais chuva, lágrimas, sussurros, gritos. Não havia mais a mulher vestida de negro, nem tristeza, ou dor, apenas um carro parado de qualquer jeito com a porta aberta, e um homem de terno jogado na lama, com uma arma na mão direita e um buraco de bala na cabeça. A tempestade finalmente havia parado.

2 comentários:

Jefferson Reis disse...

Imaginei um desfecho diferente, mas gostei do final que deu para o conto.

Claudio Chamun disse...

Não sei porque mas já imaginava o fim. Vai ver já estou conhecendo um pouco teu estilo.
Mais uma vez brilhante. Triste, mas brilhante.


http://cchamun.blogspot.com.br/
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